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Non dubium pro libertate

"If liberty means anything at all, it means the right to tell people what they do not want to hear." George Orwell

Non dubium pro libertate

"If liberty means anything at all, it means the right to tell people what they do not want to hear." George Orwell

Pedro Sánchez apostou no cavalo errado.

18.11.19

 

As eleições espanholas trouxeram um resultado esperado mas que ninguém desejava – mais instabilidade. É verdade que a instabilidade é, desde 2010, um ingrediente em abundância na política espanhola, principalmente dada a situação com a Catalunha. Contudo, e para ajudar ao problema, Pedro Sánchez e o seu governo, que tem surfado na onda da indecisão, contribuiram, de forma significativa, para o aguçar desde resultado.

Ora vejamos os factos. Desde junho de 2018, Pedro Sánchez é o presidente do Governo espanhol. Desde lá, a governabilidade de Espanha ficou impossível. Dadas as circunstâncias em que chega ao poder, o congresso espanhol estava fragmentado para o PSOE continuar a governar, o que levou à necessidade de eleições em abril de 2019. Sem aparente resolução para a crise catalã (que, em bom rigor, ninguém parece ter), mas com a promessa de estabilidade, Pedro Sánchez ganha as eleições com 28,7% dos votos, seguido de um Partido Popular em queda e de um Ciudadanos tendencialmente forte com 16,7% e 15,9% dos votos respetivamente. O Partido à esquerda do PSOE, o Podemos, conseguiu 14,3% dos votos.

Mesmo com este resultado – uma vitória aceitável sobre o principal rival político o PP - Pedro Sánchez não conseguiu a maioria necessária para governar. O Partido Popular e Ciudadanos, como oposição, não apoiaram nem facilitaram este governo e o acordo com o Podemos para conseguir governar também não chegou a bom porto. Nos meses seguintes, enquanto estas negociações com o Podemos decorriam, o governo de Pedro Sánchez aumentou o salário mínimo espanhol em 22% para o ano de 2019 - o que lhe deu algum capital político perante a população.

Quanto à situação catalã manteve-se praticamente imóvel. Assunto crucial para os cidadãos espanhóis em que as posições estão extremadas com batalhas campais nas ruas, Pedro Sánchez prometeu força q.b, mostrando-se contra a independência mas favorável a maior autonomia. É certo que há situações que mais vale estar quieto para não se fazer asneira, e também não se pedia a Pedro Sánchez uma solução milagrosa, mas pedia-se algo mais, algo que mostrou não ter particular engenho para fazer.

E por falar em situações em que mais vale estar quieto, Pedro Sánchez tirou um coelho da cartola. Dada a situação difícil em que se encontrava por razão de ser um governo minoritário, do falhanço de um possível acordo com o Podemos após meses de negociação, a dificuldade astronómica que é a situação da Catalunha e com a necessidade de uma maioria convincente para governar, no alto da sua capacidade política, decidiu abrir uma ferida sobre outro assunto que divide os espanhóis.  Num rasgo de brilhantismo, Pedro Sánchez manda exumar o corpo de Franco do Vale dos Caídos com o argumento que era para “corrigir uma anomalia democrática que já devia ter sido corrigida”. 

Toda a possibilidade, ainda que hipotética, que Pedro Sánchez poderia ter de uma maioria desapareceu naquele momento. Quando Espanha precisava de soluções objetivas e os cidadãos de respostas para evitar mais desunião, o Presidente do Governo espanhol decide abrir mais uma ferida apenas para, acredito eu, agradar a uma fação mais de esquerda do eleitorado - o que podia até resultar se não existisse a pequena nuance de a esquerda política espanhola estar sobrelotada.

A situação do corpo de Franco não merece, em si e da minha parte, grande comentário. Não estou, nem quero estar, numa posição de analisar essa ação em particular. O que não posso deixar de analisar é que, politicamente, foi uma tremenda parvoíce. Esta ação sobre os restos mortais de Franco em conjunto com a inação geral - mais em específico, na situação catalã - mais o facto de as pessoas estarem saturadas com a conversa sobre eleições, levou a que Pedro Sánchez acabasse por ser um dos principais responsáveis pela subida de um partido como o VOX que aproveitou políticamente essa inação do governo.

Não quero nem serei injusto em dizer que foi o único culpado, até porque seria mentira. Existem outras razões e outros culpados para o aumento da votação do VOX. Contudo, Pedro Sánchez, todo o PSOE e a própria equipa governativa são, em grande medida culpados por esse aumento. O PSOE e a sua equipa governativa porque, enquanto instituições solidificadas, não souberam aconselhar o seu líder e dar-lhe as bases para propostas mais concretas que realmente ajudassem as pessoas, preocupando-se mais com aparências que soluções. O próprio Pedro Sánchez por não perceber a necessidade de estabilidade e acabar por entrar em rivalidades que em nada o ajudaram, mesmo que a intenção possa ter sido boa.

Em suma, Pedro Sánchez não foi capaz de perceber aquilo que as pessoas pediram – afirmação e propostas concretas para os assuntos que já as preocupavam. Em contrapartida, Pedro Sánchez não soube escolher as suas batalhas e, na sua ambição de querer fazer algo (que é para isso que lá está), apostou no cavalo errado abrindo mais uma ferida, o que, naturalmente, se refletiu nos resultados eleitorais. O falhanço de Pedro Sánchez trouxe o resultado esperado, mas que ninguém desejava – mais instabilidade.

 

Pedro